Amor ou Medo? O Caso Coldplay Que Expõe Nossa Obsessão com a Vigilância

Quando o holofote da arena Coldplay pousou sobre um casal no público, ninguém imaginava que isso se tornaria mais do que um momento inocente. Afinal, estávamos em um show de rock, não em um tribunal. No entanto, a reação dos dois - correr para se esconder e tentar evitar os flashes - foi o suficiente para que a internet inteira começasse a especular: será que estavam namorando segredo ou simplesmente tinham vergonha?
Enquanto isso, o vocalista Chris Martin se divertia com a situação. "Eles estão tendo um affair ou apenas são muito tímidos?"
, ele brincou. E é justamente essa inocência que torna a história ainda mais assustadora.
Os dois envolvidos foram identificados como Andy Byron, CEO da empresa de infraestrutura de dados Astronomer, e Kristin Cabot, CPO (Chief People Officer) da mesma companhia. E é aqui que as coisas начинают ficar interessantes: a internet logo associou o nome dos dois com uma possível traição - afinal, um CEO e uma CPO namorando pode ser visto como 'atraente' ou 'problemático', dependendo do ponto de vista.
Mas o que mais me assusta não é tanto a especulação sobre os envolvidos. É a maneira como nós, como sociedade, estamos prontos para usar as ferramentas tecnológicas para nos transformar em juízes e júri de nossos próprios problemas.
Imagine um mundo onde não precisamos esperar que governos ou empresas tech estabeleçam um estado de vigilância total - nós já estamos prontos para isso. Nosso próprio comportamento online, nossa sede por julgar e punir quem quer que esteja 'fora do padrão', é o exemplo perfeito disso.
Quando pensamos em vigilância, logo associamos a câmeras de segurança, drones e até mesmo IA. Mas estamos esquecendo de um ponto crucial: somos nós mesmos os melhores vigilantes. E isso não é necessariamente uma coisa boa.
Afinal, quem nunca teve aquele colega que postou algo no Facebook e logo você começou a especular o que ele estava pensando? Quem nunca viu um vídeo de alguém se comportando mal e imediatamente quis compartilhá-lo com todos os amigos?
Essas atitudes, em pequena escala, mostram como estamos prontos para usar a tecnologia contra nossos próprios semelhantes. E é isso que está acontecendo no mundo moderno: estamos transformando as redes sociais e os meios de comunicação em tribunais improvisados.
Em um artigo de 2016, o historiador Malcolm Gaskill descreveu a tecnologia atual como uma 'saída mais rápida e pública' para nossos comportamentos más. "Enquanto nossa sede por processar pessoas foi saciada há muito tempo, o impulso em si não diminuiu", disse ele.
E é justamente isso que vemos no caso Coldplay. Um simples beijo no estádio pode virar um drama nacional - e ninguém parece se importar com as consequências disso.